terça-feira, agosto 28, 2007

SOLIDARIEDADE COM O IRÃO



Porque a causa merece o nosso apoio.




Irão: a guerra que se prepara
A concordância da administração Bush em sentar-se à mesa das negocia­ções com delegações do Irão e da Síria para discutir a “estabilização” do Iraque foi apresentada por certa imprensa co­mo um sinal de apaziguamento na cha­mada “crise iraniana”. Multiplicam-se con­tudo sinais iniludíveis de que esta “con­cessão” se destinou apenas a cobrir a escalada em curso: depois da detenção pelo exército norte-americano de uma de­legação iraniana em visita oficial ao Ira­que, em Fevereiro, os EUA forçaram a aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de novas sanções contra o Irão; concentram no Golfo uma enorme for­ça naval; na Austrália, o vice-presidente Dick Cheney repete que, quanto ao Irão, “o governo considera todas as opções”; a CIA prossegue com operações clan­destinas para desestabilizar o governo do Irão; e em fins de Março uma lancha de guerra inglesa entrou em águas terri-to­riais iranianas, numa provocação que só não teve maiores consequências devi-do à hábil reacção de Teerão.

Não restam muitas dúvidas de que está em marcha uma escalada de provo­cações semelhante à que teve lugar quan­do do cerco ao regime de Saddam Hus­sein. Contando com a cooperação do go­verno inglês neste tipo de tarefas sujas, Washington pretende criar uma situação irreversível que culmine numa “provoca­ção intolerável” dos iranianos e acabe por justificar aos olhos da opinião públi­ca o desencadeamento de actos de guer­ra. Mesmo a inesperada “normalização” da crise com a Coreia do Norte pode fa­zer parte da concentração de forças em torno do Irão.


Aventura impossível?

Os EUA têm neste momento no Golfo dois porta-aviões (Dwight Eisenhower e Nimitz) e três grupos navais de ataque. Um terceiro porta-aviões está a caminho. Não se trata só de intimida­ção. Segundo a BBC, o comando central dos EUA tem uma lista completa de al­vos iranianos a atacar com mísseis: cen­trais nucleares, bases aéreas e da mari­nha, centros de mísseis, etc.
A hipótese de uma nova aventura mi­litar, quando os Estados Unidos estão a bra­ços com um cenário catastrófico no Ira­que, parece de tal forma insensata que muitos se recusam a admiti-la como pos­sível. Mas isto é não ter em conta que, pa­ra o Pentágono, a fuga para a frente é um recurso para tentar evitar um desas­tre iminente.
Escolhido desde o 11 de Setembro co­mo alvo principal da ofensiva no Mé­dio Oriente e incluído na lista do “Eixo do Mal”, o Irão tem vindo de então para cá a tornar-se um empecilho cada vez mai­or na “reconfiguração estratégica” planeada pela equipa de Bush. A utiliza­ção dos partidos xiitas como alicerce do go­verno colaboracionista no Iraque, o des­calabro da ocupação daquele país e o estrondoso fracasso israelita no Líba­no só serviram para aumentar a influên­cia política do Irão na região. Não tendo conseguido até agora o derrubamento do seu regime por uma crise interna, só res­ta a Bush a via do ataque militar.
Para os estrategas do Pentágono, tu­do se resume pois a criar bons pretextos para o ataque. Ou pela histeria em torno da ameaça nuclear iraniana; ou devido a um ataque mortífero às forças dos EUA no Iraque, que permita acusar o Irão; ou pelo lançamento de um míssil sobre Is­rael e atribuído a Teerão – meios não fal­tam para que, em ambiente de crise nacional, o Congresso vote plenos po­deres a Bush para retaliar.
Naturalmente, uma invasão terrestre igual à do Iraque está por natureza ex­cluída. Bush-Cheney sabem-no e não ten­cionam meter-se noutro pântano. Mas há outra “solução” – uma onda de bombardeamentos aéreos, ditos “cirúr­gicos”, que ponham fora de acção os meios de retaliação do Irão. É essa que está a ser activamente preparada e de que dão conta os testemunhos que a seguir re­produzimos.


Leonide Ivachov-“Vamos provavelmente assistir à en­trada em acção da guerra informacional, com uma febre histérica anti-iraniana, “fu­gas” de notícias para os jornais, de­sinformação, etc. Como não é certo que o Congresso dos EUA autorize a guerra, poderá recorrer-se a uma provocação, co­mo um ataque contra Israel ou contra bases militares dos EUA. Se essa provo­cação tiver uma amplitude da ordem dos atentados do 11 Setembro de 2001, então o Congresso dirá decerto ‘sim’ ao presi­dente.”
(Entrevista a Horizons et débats, Zurique, 10/3/07.
O general Leonide Ivachov foi chefe do estado-maior da Rússia)


Michel Chossudovsky-“A decisão de atacar o Irão nada tem de surpreendente. Consta já desde 1995 dos planos de guerra do Centcom (Co­mando Central US). Actualmente, Wa­shin­gton estuda o recurso a uma força mi­litar esmagadora que atacaria em re­presália a uma alegada agressão ou desobediência do Irão a intimações da ONU.
O bombardeamento das instalações militares iranianas com armas conven­cionais desencadearia uma catástrofe do tipo da de Tchernobyl, com poeiras nu­cleares de grande envergadura. Se o Irão responder por meio de ataques contra ins­talações EUA, no Iraque ou nos paí­ses do Golfo, serão então utilizadas ar­mas nucleares tácticas ‘preventivas’ antibunker. Israel, pela sua parte, está pronto. Os preparativos para um ataque aéreo de surpresa ao Irão começaram em 2004”. (Global Research, 21/2/07).


John Pilger-“Os Estados Unidos estão a planear o que será um ataque catastrófico ao Irão sob a alegação de que este constitui uma ‘ameaça à paz’.
Contudo, no capítulo da “ameaça ira­niana”, a única prova sólida é a ameaça co­locada pelos Estados Unidos. Uma for­mação naval norte­americana está a postos no Mediterrâneo oriental. Pela pri­meira vez desde os anos mais perigo­sos da Guerra Fria, a utilização do que en­tão se chamava armas nucleares “limi­tadas” está a ser discutida abertamente em Washington. Seymour Hersh revelou no ano passado no New Yorker que bom­bardeiros americanos “têm estado a voar em missões simuladas de lançamento de armas nucleares, desde o último Verão” e o bem informado Arab Times, do Kuw­ait, afirma que Bush atacará o Irão antes do final de Abril.
Em Novembro último, a maioria do elei­torado americano votou pelo Partido De­mocrata a fim de travar a guerra no Ira­que. Tem havido insípidos discursos de “desaprovação”, mas é improvável que isso aconteça.
Pode isto estar realmente a acontecer outra vez, menos de quatro anos após a invasão do Iraque que deixou um saldo de 650.000 mortos? Escrevi pratica­mente este mesmo artigo no princípio de 2003; basta ler ‘Irão’ onde eu então men­cionava o Iraque.
Na Grã-Bretanha, salvo algumas hon­rosas excepções, o Parlamento per­manece vergonhosamente silencioso. Jor­nalistas privilegiados, académicos e ar­tistas, escritores e dramaturgos que por vezes falam acerca da “liberdade de ex­pressão” estão silenciosos. O que espe­ram? A declaração de um outro Reich de mil anos, ou uma nuvem em cogume­lo no Médio Oriente? Ou ambos?

Francisco Rodrigues, Política Operária, Março/Abril 2007



FONTE

1 comentário:

PintoRibeiro disse...

Absolutamente. No ponto. Mas eu sou dos que acredito que o Irão vai ser o fim já anunciado dos USA.
Abraço K'mrd.