quinta-feira, maio 27, 2010

PEC, PACOTES E PATRANHAS



Nasci num país que se estendia do Minho a Timor, com tudo o que isso implicava, e vou morrer num outro francamente mais pequeno, que não sei se ainda encurtará mais ou se desaparece de vez – nunca pude opinar sobre isso; não sei que língua falarão os meus netos se os vier a ter; formei-me em escolas sérias, com professores maioritariamente capazes e onde era necessário provar que se sabia para se receber um diploma; entrei para uma escola superior militar para me tornar profissional das “armas”, numa altura em que pronunciar as palavras Exército, FA e Marinha enchia a boca e a alma – hoje começa a ser difícil rever-me no que resta; vi e ouvi prometerem-me (e ao país) muito e bom e vi concretizar pouco e mal (o vinho melhorou bastante…); nunca vi nem ouvi nenhum responsável pedir desculpa ou ser incomodado pelo que fez ou não fez; habituaram-me a ser pobre, remediado ou rico, mas honrado, depois a honra (esperteza) passou a estar em ser rico de qualquer maneira. Podia continuar com a lista, mas creio que já ilustrei o ponto.
Passei a viver em “Liberdade”, mas esqueceram-se de a definir e regulamentar, pelo que nos atropelamos uns aos outros. Massacraram-me as entranhas afiançando que tinha direito a tudo e não tinha dever de nada (a não ser a pagar impostos…) esta imbecilidade vai transformar-nos em escravos sem direitos.
No fundo deixei de ser um cidadão para ser apenas um número e uma vítima. Não acreditam?
Ainda não fugi a pagar impostos (também não desertei…); nunca fiz greve nem “lockout”; nunca inventei engenharias financeiras; não voto no actual espectro partidário; não me deixam ter outra forma de regime, a não ser pela via revolucionária; não tenho dinheiro em paraísos fiscais; não influenciei em nada o orçamento da PR, AR, ministérios,Regiões Autónomas,autarquias,empresas camarárias, etc.; nunca empreguei um familiar meu em organismos do Estado; nunca me perguntaram se eu quero deixar de ser português ao integrarem o federalismo europeu; tenho que ouvir os políticos dizerem por norma, uma coisa hoje e o seu contrário amanhã; obrigam-me a viver na ditadura dos ciclos eleitorais e na lógica do bota abaixo inter partidário, onde não resta tempo algum para se governar (embora esteja à vista de todos que muitos se governam) – justamente a única razão porque se lhes paga e porque foram eleitos; agridem-me diariamente com casos de corrupção, decisões de insanidade mental e aberrações humanas e nada acontece e nada se compõe ou castiga – a justiça não existe, o que existe é o exercício deletério do Direito, etc, etc.
Juro que não contribuí para nada disto. Vejo a soberania do meu querido país a ser retalhada; a economia a ser destruída; a moeda desaparecida; estou indefeso contra tudo e contra todos e vejo os meus filhos crescerem num sociedade em desagregação acelerada de referências, valores e costumes. Mas quando chega a altura de se tentar emendar alguma coisa, sou eu que pago...
E o que me oferecem? Oferecem-me uma praxis política com mais de 2000 anos de sucesso: pão e circo.
Quando o pão começa a faltar, afifam-me com um PEC, mais um pacote e muitas patranhas. E inflação de números de circo. Virão outros.
Tem havido imensos debates, diagnósticos, soluções apontadas, propostas e contrapropostas. Nada acontece, por uma razão que ninguém quer apontar: não há autoridade – e também não há muita gente interessada em perceber porquê.
Mas o ponto fulcral de tudo é este: o Estado que inventámos no século XV/XVI, na versão moderna, tem a finalidade de proporcionar à Nação (termo entretanto desaparecido do vocabulário público) a Segurança, a Justiça e o Bem-Estar. Por esta ordem. Pois bem, os actuais órgãos do estado têm tido como ocupação principal subverter a Nação e desconstruí-la até aos seus fundamentos.Esta desconstrução começa no ensino da história,passa pela destruição de todas as Instituições fundamentais ao país,como as Fas,a Universidade e a Igreja,e prossgue com os temas ditos fracturantes,como os valores,os costumes e as relações de autoridade.
Isto é um facto novo na História de Portugal.
Daí ser natural a confusão reinante. Perceber que é preciso combater esta subversão é o primeiro passo para podermos aspirar a ter futuro como portugueses.

João José Brandão Ferreira
TCor/Pilav (Ref)

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