terça-feira, março 27, 2007

Afinal, a lista de extrema-direita até tem um apoiante do Bloco de Esquerda

Nuno, estudante de Línguas e Culturas, aprende russo, inglês e espanhol na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É membro da lista X, candidata à Associação de Estudantes da faculdade e, desde ontem, passou a ser encarado por alguns colegas como um perigoso membro da extrema-direita. Um facto estranho, não tanto pelo cabelo comprido e roupas largas, nada condizentes com o estereótipo, mas sobretudo pelo partido que diz apoiar: "Sou do Bloco de Esquerda."

"Hoje de manhã, o meu pai veio ter comigo e perguntou-meapos;Então estás numa lista da extrema direita?' E eu respondi-lhe: 'Estás-me a ver com cara de skinhead?' Até ao fim do curso, não me vou livrar dessa fama", lamenta."Só o facto de estar associado a esta lista já me criou imensos problemas aqui dentro."

A presença de elementos ligados à extrema-direita na Faculdade de Letras tem sido um facto notório nos últimos tempos (ver texto ao lado). No entanto, todos os membros da lista X contactados pelo DN negaram a participação deste movimento nas eleições.

"Não temos ligação com partido nenhum, nem de esquerda nem de direita. E ao contrário do que foi noticiado não fomos contactados por ninguém", garante Tiago Leonel, desta lista. "Temos dois elementos nacionalistas", admite, "assim como temos gente de extrema-esquerda e muitos sem qualquer ligação partidária. Quando optámos por formar a lista foi uma decisão de alunos amigos há vários anos". "Se a nossa lista for eleita, é para tratarmos de questões dos alunos, como as propinas e o processo de Bolonha, não para organizar manifestações", adianta Diana Florindo, estudante de Filosofia.

"Um deles é um assassino"

Quem não se convence com estes argumentos é José Falcão, da Associação SOS Racismo, que reafirma a presença na lista de um dos condenados pelo assassinato do português de origem caboverdiana Alcindo Monteiro, em 1995: "Um deles é um assassino condenado", diz. "Quer que acredite que há um elemento de esquerda que aceita estar na mesma lista com ele?", questiona. "O que toda a gente sabe na faculdade é que há um regime de terror", afirma.

Também João Diniz, da Lista U, concorrente, admite "acreditar que possa haver alguma ligação à extrema direita", embora não generalize a suspeita a toda a lista X: "Não me parece crível que seja toda a lista, mas o facto de estarem lá alguns já é suficientemente grave."

Nenhum elemento da universidade confirmou ao DN a presença do alegado homicida na lista. Ao jornal Público, o presidente da Faculdade de Letras, Álvaro Pina, tinha referido um estudante "com cadastro", dizendo ignorar se era o visado. Tiago Leonel garantiu ao DN desconhecer "qualquer elemento" da lista X nessa situação, acrescentando que o membro mais velho da lista tem 26 anos, o que, a confirmar-se, o colocaria com 14 anos à altura da morte de Alcindo Monteiro.

António Silva, presidente da Comissão Eleitoral, garantiu ao DN que até agora "não há registo" de queixas de intimidações relacionadas com o acto eleitoral e que "ambas as listas se têm pautado por uma enorme calma e sido um exemplo para a comunidade estudantil".

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