terça-feira, março 06, 2007

TIR BASES ACTIVISTAS


«Se digo que esta ou aquela coisa não me agrada, estou protestando. Se me ocupo, ao mesmo tempo, a tentar que algo de que não gosto não volte a ocorrer, estou resistindo. Protesto, quando digo que não continuo a colaborar. Resisto, quando me ocupo de que também os demais não colaborem.» ULRIKE MEINHOF

I-NÃO ESPERAMOS POR NINGUÉM

Desprezamos os homens que, ante qualquer contingência, consideram sempre que é ainda demasiado cedo ou é já demasiado tarde.

Apresentam-se como estrategas apurados para mascarar o seu imobilismo. Procuram sempre desculpas para nada fazer. A revolução, desde que ultrapassa a especulação intelectual, deixa de os interessar. O mesmo é válido quando se trata de abrir os cordões à bolsa.

Outro erro clássico que é necessário denunciar, é o dos que julgam que uma revolução se anuncia pelo apoio de notáveis da sociedade solidária do regime que se quer varrer. A maior parte da “elite” de uma sociedade, quer por falta de carácter, quer simplesmente por interesse, a curto prazo, bem entendido, é neutra. Essa “elite” neutra não «faz política» e contenta-se em ser, com passividade mas com constância, «governamental». Não devemos protestar nem indignar-nos. Essa “elite” neutra, mais ou menos amorfa, teria tudo a perder desde que se comprometesse num empreendimento revolucionário. Uma revolução que parte ao assalto não deve contar com ela; uma revolução instalada na vitória não precisa de a requerer, ela apresentar-se-á por si própria, espontaneamente, com as suas ofertas de serviços.

Na realidade, nos factos, cada revolução traz consigo um nova elite dirigente — elite seleccionado pelo rigor do combate que acaba de terminar, após anos de lutas e perseguições. Dêem atenção à diferença entre a elite dirigente que comanda e o outra neutra que gere, que administra segundo uma linha geral recebida da primeira.

II-COMEÇAR SÓ

Há pessoas que, postas perante uma revolução, na sua génese, perante a proposta de uma «longa marcha politica», se retiram argumentando «que os outros não estão lá». A selecção de um pequeno número opera-se no arranque de um grande.

Nos escóis humanos e, em particular, com os escóis revolucionários, muito poucos atingem a idade adulta.

Esperar pelos outros, pelos «aliados», é comportamento de um seguidor e não de um precursor. É sobretudo quando um grupo se mete em marcha que se vêem aumentar as fileiras. Assim, na sua técnica de recrutamento o movimento deverá manifestar-se mesmo com os seus efectivos visivelmente incompletos, mesmo com objectivos vastíssimos e aparentemente grotescos em relação ao número.

Adiar eternamente o avanço com o pretexto de que ainda não se é suficientemente numeroso é condenar-se à inactividade definitiva. Os que são desencorajados pelo pequeno número não possuem as qualidades inerentes aos reais chefes, a capacidade de agir «em número desesperado» e a de fazer algo, no porque haja possibilidades de vencer, mas porque isso deve ser feito.

A diferença entre estes dois tipos de homem é facilmente observável, mesmo na vida corrente. É o sentido do dever activo.

Para o homem de dever, o seu compromisso nunca deve ser determinado pela certeza da vitória, ainda que ela fosse para outros; o seu compromisso deve ser um acto de fé, um acto de dever e o seu comportamento uma missão.

III-AGIR, SEM ESPERAR POR UM LÍDER

O membro ou o simpatizante, ou mesmo o militante, ao qual falta a perseverança, imputará o seu fracasso e o da sua secção a todas as causas imaginárias excepto á sua incapacidade.

Vemos isso nas diferentes secções de um só movimento em que uma se desenvolve admiravelmente e a outra de forma lamentável. Porquê procurar mais longe do que na qualidade da equipa dirigente da própria secção? Alguns, na sua inconsciência, querem que lhes seja fornecida não só a ideia (o que é evidentemente natural) mas também os membros. Existem assim, pretendentes a um posto de quadro elevado que estariam prontos a aceitar «a direcção de uma secção». São sempre os que seriam incapazes de formar uma secção.

É preciso afastar os medíocres pretensiosos, sem perda de tempo.

Um dos pretextos mais frequentemente utilizados para encobrir a incapacidade ou o desencorajamento é o facto de um movimento não ter o seu “Grande Líder”. Argumento sem valor para quem conhece a História e, sobretudo, a história dos partidos políticos. Os chefes nunca existem, portanto, antes do acontecimento e, só a posteriori, são consagrados como «dirigentes incontestados» ou «guias geniais». Durante o seu duro combate estes dirigentes foram constantemente retardados pela inveja e pela cegueira dos seus companheiros de combate. Os mesmos que hoje dissimulam a sua preguiça de pseudomilitantes e a sua incapacidade de pseudopolíticos com esta desculpa, são iguais aos que com os mesmos pretextos agiram como eles durante toda a história da humanidade.

Afirmações estéreis que mal escondem a recusa do esforço, a recusa da disciplina, do próprio trabalho. Esta fauna pertence à espécie do «só há que» e «se eu tivesse»...

IV-ORGANIZAR-SE ANTES OU DURANTE A ACTUAÇÃO?

O método do recrutamento «a quente» para o que se refere, pelo menos, ao quadro é catastrófico. Por recrutamento a quente entendemos o recrutamento em plena luta, improvisado. Ao procurar-se captar um acontecimento (quando pela boa estratégia se deve precedê-lo), enche-se a organização de anormais e de psicopatas. As asneiras praticadas por estes anormais, congenitamente inadequados, compromete a boa marcha das operações — leva-se a desordem às suas próprias fileiras e suscita-se a condenação da opinião pública.

O esquema correcto é o recrutamento de um quadro são — em tempo de paz ou em tempo calmo — e no momento da acção decisiva, a inclusão, na tropa, de elementos medíocres ou exaltados.

Distingamos entre o quadro e a massa. Os militantes mais perseverantes, mais disciplinados, mais eficazes, são os que na vida corrente conseguem arrumar-se facilmente ou se colocam bem. A revolução tem tantos momentos de depressão, de adversidade, logo tantas possibilidades de desencorajamento que deve ser necessariamente enquadrada por pessoas animadas por uma fé interior, pela fé na missão que devem cumprir.

O recrutamento a quente é uma solução fácil. A exibição atrai muita gente e suscita demasiadas vocações efémeras. Pelo contrário, o recrutamento a frio é terrivelmente ingrato, os candidatos são poucos.

A sua qualidade é contudo superior! São animados pelo conhecimento antecipado do acontecimento, pela fé da necessidade do combate, e são capazes de trabalhar sem a ajuda forçada de uma exaltação.

A preparação de uma revolução, não tem nada de exaltante para o senso comum.

Assim, pois, o recrutamento a frio em tempo de paz, em tempos de calma eufórica, é muito difícil quantitativamente. Mas, no entanto, esse recrutamento constitui uma necessidade imperiosa. Ao abrigo da legalidade do adversário, sob os sorrisos incrédulos dos amigos, sob os sarcasmos divertidos do regime que se crê inatingível, é preciso paciente e sistematicamente instalar, educar e treinar o aparelho da organização. Em virtude das próprias condições psicológicas ambientes, não exaltantes, só se devem esperar resultados qualitativos e nunca quantitativos.

As organizações revolucionárias são, então, movimentos de quadro. A conclusão é que é indispensável organizar-se antes e, sobretudo, não durante; é necessário instalar uma hierarquia desde o tempo de paz.

Uma organização deve enfrentar o acontecimento com toda a sua hierarquia criada há muito tempo. Querer improvisar uma revolução é correr para o fracasso. É nascer depois dos acontecimentos e tentar captá-los sem conseguir. É abordar a questão revolucionária sem quadros estruturados e sem doutrina.

É preciso também fugir-se, como da peste, dos oportunistas que saltam como para um autocarro em marcha.Aqueles que consideram, em tempo de paz, uma revolução ou uma insurreição impossíveis, recusando-se a participar na sua participação, surgem então para brincar aos «chefes». Perante a mais pequena adversidade esta gente fracassará e retrocederá.

A tarefa parece ridícula. Parece mesmo, por vezes, um fim para alguns, o que, nomeadamente permite seleccionar as vocações profundas, os caracteres perseverantes.

V– ORDEM NAS IDEIAS E NA ACÇÃO

Um movimento revolucionário deve apresentar, o mais cedo possível, um conjunto dialéctico quase definitivamente fixado aos seus militantes, em alguns pontos importantes e precisos. O compromisso do militante pressupõe então o conhecimento destes pontos e a sua obediência sem reserva a eles. Para que um militante possa, assim, comprometer-se incondicionalmente — essa é a condição da coesão da falange política —, é necessário que abandone numerosas opiniões consideradas como derivando da sua opção pessoal livre. Em troca, são-lhe permitidas opiniões pessoais sobre pontos considerados secundários. Estas são, de facto, a válvula de segurança nervosa, graças à qual se poderá submeter o grupo sob uma tensão máxima que aplica o dogma político.

A fixação do dogma é importante. Destina-se a impedir que ambições pessoais se disfarcem em diferendos ideológicos. Apresentados como tal aos militantes podem semear a divisão. Convém pois, antes da entrada em combate, marcar os pontos de dogma e manter-se neles.

É necessário combater com vigor a tentação da discussão estéril. Um homem que deseja tornar-se militante não tem que discutir um programa ideológico. Entra num movimento semelhante a uma ordem religiosa. O regulamento está definido antes do seu compromisso. Não há lugar para a palavra vã, para o escrúpulo pequeno-burguês, para o tormento moral pessoal, para a hesitação estética.

Quando num jornal ou na Internet, se pode seguir de uma página a outra, controvérsias entre elementos pretensamente da mesma área, é que chegamos à conclusão de como a discussão pueril pode ser contrária ao sentido político prático.

Os chefes políticos deixam-se frequentemente impressionar por observações que provêm de polemistas de profissão ou de elementos atormentados por uma perfeição ideal. O comando implica uma relativa surdez perante certas discussões. Estas observações, estas dúvidas, estas críticas, não correspondem aos sentimentos da grande massa dos melhores militantes. Para estes é necessária uma regra de vida, uma regra de conduta.

VI-DO GRUPO À EQUIPA

Um grupo político é diferente de uma equipa política. A segunda surge quando surge — alguns anos depois da primeira, O primeiro é heterogéneo, a segunda é homogénea.

O grupo tem um carácter precário. A equipa tem um carácter definitivo e permanente. Os homens que a compõem conhecem-se de longa data e o grupo original, depois de ter suportado abalos, alterações, purgas, abandonos, perseguições, decantou-se rejeitando os elementos fracos ou demasiado diferenciados, depois coagulou e tornou-se equipa.

Surge a importância de formar esta equipa, quando tudo está completamente calmo e mesmo o aparelho do Poder não prevê um futuro crítico para si. Preparar-se, organizar-se antes e jamais durante.

O grupo, um novo movimento atrai nos seus primeiros passos todos os instáveis, curiosos patológicos da política. Estes dão conselhos, discutem, resistem, criticam e, por fim, retiram sem ter auxiliado em nada.

É uma fase pela qual deve passar todo o grupo que nasce. Discutir divide. Lutar em conjunto une. Nunca é demais atrair a atenção do neófito sobre a importância do trabalho sem exibição. A sua carreira política começa pela lata de tinta para pintar ou pelo frasco de cola para os envios de publicações. Um método que deve, absolutamente, ser banido de uma organização é o cancro do direito ao voto quase imediato de quem entra, sem um tempo de prova. Não se vota sobre acções ou ideias mas sim sobre pessoas.

Este sistema tem um defeito fundamental, que é o de levar os homens a avaliarem-se e a dividirem-se. Os vencidos de uma votação, tratando-se de membros sem maturidade política, conservam cicatrizes de amor-próprio ferido e aproveitarão a primeira oportunidade para se vingar. Quando um organismo é formado quase exclusivamente por este tipo de candidatos a militante, caberá ao seu chefe solucionar as questões depois de se ter largamente informado.

A sua decisão será por vezes impopular — não importa, essa é a sua função. Suporta-se melhor esta, em particular nas organizações em desenvolvimento, se a autoridade vier do alto e as atribuições e graus forem designados ou cooptados.

Mais tarde, quando o grupo instável se tornou numa equipa homogénea, o sistema de voto será introduzido com sucesso. O mesmo para o militante que, passadas as suas provas, demonstrou qualidades para o poder exercer correctamente.

A experiência revela então que, raramente, na equipa, aparecem divergências, quando elas são frequentes no grupo.

Os mesmos homens, se tivessem acesso ao voto, no início, ter-se-iam combatido. Tempos mais tarde, os mesmos homens podem então «contabilizar» as suas opiniões e perspectivas, e verificar que são idênticas.

A unanimidade na acção, conseguida de início por uma força de autoridade, no seio do grupo, pode ser continuada mais tarde, então no seio da equipa pelo livre acordo.

VII-UMA ORGANIZAÇÃO DE COMBATE MODERNA E A SUA MOBILIDADE

Preparar uma organização centralizada, estruturada, hierarquizada, isto é, um aparelho pronto à intervenção imediata. É quase certo que esse aparelho será chamado — em virtude dos próprios acontecimentos — a substituir, em tempo de crise ou de pânico, os nossos governantes demasiado hesitantes, demasiado cobardes, demasiado comprometidos ou, simplesmente, demasiado enfeudados a uma potência extra-europeia. Ao primeiro sinal, ao primeiro apelo, deveremos poder responder com o envio de militantes enquadrados, organizados.

A extrema-direita é incapaz de desempenhar esta missão ou mesmo de a encarar. A sua autoridade não ultrapassa o seu pequeno círculo, que, aliás, não quer ultrapassar. A sua única função histórica é constituir um espantalho que o sistema utiliza com mestria.

Esta dá vontade de rir pelas suas estruturas baseadas na obsessão de uma feroz independência. A deslealdade é a regra, e o princípio de trabalho consiste em caluniar os seus «associados» e tentar tirar-lhes os seus membros. Assim, toda a agitação dos círculos «nacionalistas» consiste em modificar a repartição dos grupos sem que o total se altere. O grupo A rouba dez membros ao grupo B; do grupo C, vinte militantes tendem para o grupo D. Mas, quando se faz a soma dos grupos A, B, C, e D, verifica-se que é quase invariável desde há muitos anos. A autoridade nada mais fez do que degradar-se. É preciso saber que para tirar dez membros da organização A, o grupo B teve de prometer mais larga autonomia a esses dez trânsfugas a fim de lhes dar garantias. Assim de abandono em deserção, de traição em perfídia, a autoridade desintegrou-se.

O que é necessário para substituir este mito da coordenação das forças «anti-sistema» é uma organização integrada, centralizada. Uma das características de uma organização integrada é a sua ubiquidade. Está presente por todo o lado. Tem ouvidos por todo o lado, olhos em todo o sítio. Por toda a parte difunde uma doutrina idêntica e aplica regras semelhantes. Olhos em todo o sitio, e sobretudo com uma só boca.

VIII-A EQUIPA CONSCIENTE E ORGANIZADA

A equipa do poder sai, de facto, das equipas do «arranque insignificante». Os primeiros homens a compreender uma oportunidade são dotados de uma maior observação histórica. Por outro lado, dão prova de uma coragem física e moral muito maior, aderindo a um empreendimento arriscado ou mesmo perigoso. As leis de selecção apuraram um escol real. Estes homens que viveram anos sombrios ou difíceis, uma vez chegados ao poder não são facilmente impressionáveis

Assim, a vontade de algumas dezenas de homens pode fazer sair do nada, após uma luta longa e, por vezes forjada na adversidade, milhões de homens. Uma equipa determinada pode desmentir as previsões sensatas, a vontade pode vencer o cálculo.

A imagem mantida por muitos que se tomam por revolucionários é que a inteligência ou a indignação, ou as duas reunidas, podem coagular os elementos «sãos» de uma nação, que, depois de se terem «espontaneamente» coligado, designariam ou elegeriam um chefe ou chefes.

O processo é sempre ao contrário. O comando não é um fenómeno que segue mas que precede. O próprio poder não é efeito mas causa.

A consciência histórica da equipa revolucionária precede, de muito longe, a das massas. Também a consciência do acontecimento futuro e possível nasce no espírito dos chefes muito antes do que nos homens que formam a sua equipa. Trata-se de uma hierarquia natural da cronologia revolucionária.

O acontecimento é pressentido e querido por um homem ou por um punhado de homens. Em seguida, é anunciado ou provocado por uma equipa revolucionária. A vontade de comandar e de guiar precede no tempo a vontade de obedecer e de seguir. A vontade de comandar é um factor político nitidamente mais activo do que a vontade de marcar passo, e é este carácter activo, este vigor, que determina a ordem de aparecimento dos fenómenos, em primeiro lugar, e da hierarquia, em seguida.

Criar é fazer algo que não existe com elementos discordantes que, muitas vezes, resistem. Os grandes conjuntos históricos foram construídos pela imposição de uma força centralizadora, centrípeta, a grupos divididos, hesitantes e, por vezes, hostis,

As partidocracias desde há muito tempo têm os seus estatutos ou regras formais elegem ou designam os seus «chefes». Aqui a comunidade precedeu o «chefe». Quando é preciso fazer mais, algo de novo, não há nem comunidade preexistente, nem estatutos, nem regulamentos.

Uma revolução é um trabalho, antes de mais, de imaginação, depois, de vontade e, por fim, de acordo. É imposta; essa é a sua génese. Depois de muito tempo torna-se herança, recordação em comum.

O poder em si próprio é o comando por excelência, é o poder criador. O «poder» eleito é de gerência. Isto implica tipos de homens essencialmente distintos. A Comunidade a coagular, tem necessidade de chefes e não de gerentes. As regras que se lhe aplicam são as de uma organização revolucionária.

A vontade de comando será a causa da revolução socialista e precedê-la-á.

IX-NOCIVIDADE DAS ALIANÇAS

Uma organização homogénea e dinâmica recusa sempre a fusão, mas pode, pelo contrário, procurar alianças tácticas de carácter provisório.

Os melhores defensores dos «agrupamentos» políticos são, de facto, os que deles contam tirar proveito. Eu trago um tu trazes dez, juntamo-nos e, em seguida, dividimos tudo.

Se, por inconsciência, se aceita a fusão, o novo conjunto formado por duas equipas pequenas e homogéneas, forma, então, um novo grupo heterogéneo e instável, com uma autoridade contestada, porque é nova e frágil, porque não é aprovada. Todos os delicados fenómenos de evolução, do grupo para a equipa se repetem. Durante este período o novo grupo aumentado é menos forte do que uma das partes pelo facto de esta já ser uma equipa Por outro lado, a introdução de grupos ou equipas — mesmo as mais pequenas — no seio de uma equipa determinada implica para esta o perigo de aí ver introduzir feudalidades. Os que entram como grupo facilmente se reorganizam e constituem uma clientela às ordens dos seus elementos mais preponderantes, no seio do novo agrupamento para aí brincarem aos indisciplinados. O recrutamento deve fazer-se sempre individualmente e evitar os recrutamentos colectivos e organizados.

A coligação tem em si o gérmen da sua própria destruição. As formações estruturadas sob o signo do voto permanente, sob o signo das alianças, das federações, são, de antemão, batidas por uma pequena formação homogénea e unitária. Esta última é cem vezes mais manejável no terreno de acção. A sua mobilidade compensa largamente a sua inferioridade numérica.

De início, é grande a tentação entre os principiantes da política quanto ao recrutamento a todo o custo e, para isso, procedem a concessões ideológicas oportunistas crescentes. Quando se começa este caminho, acaba-se por solicitar humilde e modestamente o recrutamento. Junta-se a si o pior mas não militantes. Os plagiadores são frequentes na política, quer copiando o passado, quer copiando o presente. Levam ou enfraquecem algo mas, de facto, nada fazem de concreto.

Um teste de valor para um grupo revolucionário é a reacção unânime que desperta no seio de grupos reputados «amigos» ou «aliados». Far-se-á tudo para o sujar — dir-se-á que é composto por aventureiros, provocadores, agentes duplos, ambiciosos pessoais, loucos, tarados, paranóicos.

Um tal raciocínio unânime anuncia, de facto, o valor real pois é o dos invejosos e medíocres que sentem a superioridade dos outros mas que não podem resignar-se honestamente. A mesma prática aparece na luta entre grupos revolucionários. Desconfiem dos grupos consensuais. Se não têm inimigos é porque não ameaçam ninguém; a começar pelo regime.

X – O TRABALHO DAS TÉRMITES

Pode-se abater um regime sem batalha eleitoral espectacular, pelo desgaste, na medida em que esse regime está moralmente fatigado. É o que acontece hoje em dia.

Uma sociedade é a imagem da sua classe dirigente. Sabemos que esta não está pronta a morrer pelos seus privilégios. Para salvar os seus proveitos, manobrará, pagará mas não lutará.

Uma das técnicas da luta política, será, pois, a do trabalho subterrâneo. Não confundamos subterrâneo com clandestino e, muito menos, ilegal. O regime deve ser abatido mas inteligentemente.

A grande batalha, travada em terreno descoberto, ser-lhe-ia favorável. Dispõe, para isso, de um material pesado de que não dispomos — televisão, grande imprensa, instrução pública.

A grande batalha travada ligaria — provisoriamente — todas as tendências centrífugas e contraditórias do regime. O regime é uma maioria incontestável, mas uma maioria instável, dividida, inorganizada, bizantina. A força da uma minoria organizada e disciplinada é irresistível. Exerce a sua influência sobre cada um dos indivíduos isolados desta maioria, que se encontra assim isolada perante a totalidade ligada e coesa da minoria. O trabalho das térmites politicas é isento de ostentação, exige determinação e perseverança. Assim afasta aqueles cuja necessidade de glória trai o temperamento juvenil.

A vida política de uma nação concentra-se em alguns centros nervosos de informação, de sindicalismo, de movimentos de juventude. Introduzir-se nesses centros nervosos permite, um dia, organizar curto-circuitos. Um regime pode parecer forte, ter músculo, quer dizer, ter muitos polícias, muitos jornais; mas, para que servem esses músculos se os centros nervosos que conduzem o respectivo movimento, dando-lhe impulsos, são atacados, separados?

O trabalho de sapa, o trabalho das térmites, deverá fazer-se não só nas massas, mas no próprio coração dos centros nervosos do regime. Nada é mais fatigante do que a luta contra um adversário parcialmente invisível. Em dado momento, surge a psicose, a auto-intoxicação. Quem descobre que uma parede da sua casa está corroída pelas térmites imagina imediatamente que todas as paredes estão cheias de galerias e cria ele próprio o seu pânico, que conduz à evacuação espontânea do prédio.

A descoberta de algumas cumplicidades em torno e ao serviço de uma minoria coesa age como um veneno. O regime dispõe, é certo, de urna grande rede de aceitações e de cumplicidades, porém, estas estão divididas ou mesmo em concorrência. Na oposição há cumplicidades mais raras, mas ao serviço de um único objectivo.

XII- DA ADESÃO E DO COMPROMISSO

As grandes formações políticas clássicas exigem uma simples adesão. Pelo contrário, uma organização revolucionária exige o compromisso total.

A experiência ensina-nos que se pode contar muito mais com homens aos quais se pede algo do que com aqueles a quem se oferece algo.

Os grandes partidos oferecem lugares ou controvérsias bizantinas. No primeiro caso, recrutam oportunistas que se escaparão ao primeiro choque duro, pois não querem morrer pelas suas «ideias»; no segundo caso, atrai os intelectuais instáveis, numerosos na política. Uma organização revolucionária oferece certezas. Os grandes partidos parlamentares agitam-se em incertezas.

Uma organização revolucionária não pode limitar-se às adesões. O que importa é que esta se concretize, se materialize. O que distingue adesão de compromisso é, antes de mais, a aceitação do risco — a coragem de apresentar publicamente as suas ideias — e em seguida a contribuição financeira, o trabalho.

Um aderente, quando muito, vota no segredo da urna. Um comprometido começa por pagar e por militar, isto é, sacrifica a maior parte do tempo da sua vida privada, para a empregar na vida política.

O aderente pode fazer o mesmo em vários lados. A importância dada às discussões, às especulações estéreis, nas grandes formações políticas, contribui para aumentar a instabilidade crónica. De facto, esta gente é atingida pela necessidade da troca, de tudo pôr em dúvida, a todo o momento. Na realidade, o diálogo com eles é sem interesse, visto que não precisam de ser convencidos mas apenas de discutir, sempre à espera de se convencerem um dia. Assim é o aderente, um indivíduo cheio de reticências, ditas éticas para não se comprometer. Uma diferença notória entre a adesão e o compromisso é que a primeira pode ser ostentada em vários lados enquanto o segundo é único e total.

É-se comprometido com um só movimento mas pode-se ser aderente de várias «tendências». Um partido revolucionário deve aplicar-se a recrutar e enquadrar unicamente os comprometidos; cada um destes consagrará todo o seu tempo, toda a sua energia, à organização; não se dispersará, como faz o aderente, em várias actividades em geral «intelectuais». Intelectuais, porque não é perigoso nem fatigante.

TIR

2 comentários:

Anónimo disse...

Em bom português: Filosofia Barata.

É como posso resumir esse conjunto de tretas.

Desejo, sinceramente, as melhoras.

Anónimo disse...

Em bom português.
Não gostas não venhas cá mais.