domingo, setembro 02, 2007

Boleiras de Ançã lutam para manter tradição

"Qualquer dia, vem alguém de fora, com espírito empreendedor e monta um negócio em torno do bolo de Ançã!". A convicção é de Natália Couceiro, de 52 anos, membro da AVANÇA - Associação para o Desenvolvimento e Qualidade de Vida no Meio Rural de Ançã. "Se eu fosse mais nova, apostava numa rede de distribuição do bolo pelo país fora!", completa, sorridente. Actualmente, a vila, do concelho de Cantanhede, tem pouco mais de dez boleiras, de acordo com Natália. São elas que colhem os paus (finos), amassam o bolo e o cozem em forno de lenha. Depois, também o vendem, embrulhado em papel ou dentro de sacos de plástico. Em casa ou nas ruas.

"Esta actividade poderia ser muito rentável! Mas o processo é artesanal. O bolo só é conhecido em Coimbra, Figueira da Foz, Cantanhede e pouco mais. E é pena, porque é agradável, conserva-se durante algum tempo e não faz mal à saúde, por ser um bolo seco, sem corantes", conta Natália Couceiro. A AVANÇA surgiu, há cerca de 10 anos, para assegurar a subsistência do produto, pois a maioria das boleiras tem idade avançada. Nesse sentido surgiu, também, a Feira do Bolo de Ançã.

O segredo do bolo deverá residir, não na receita, mas na técnica de amassar. "Muitas pessoas o fazem, mas nenhuma de maneira igual", explica Dorinda Vagos, de 65 anos, que coze "desde os vinte e poucos". O saber passou de geração em geração já a bisavó era boleira. Dorinda é rigorosa quanto à confecção do bolo. Talvez por isso tenha clientes da Batalha ou do Porto a bater-lhe à porta. "Muita gente rouba nos ingredientes, por isso o bolo é mau", critica. Gostava que o produto tivesse maior divulgação, mas crê que, para tal, é necessária uma garantia de qualidade.

Bancas improvisadas

Nas estradas da vila há postos de venda improvisados, cestos com bolos de Ançã em cima de bancos. Maria Isabel Cardoso, de 64 anos, está em casa, atarefada divide-se pelo forno, pelo pincelar - com ovo - dos bolos ainda por cozer e pelo ensacar dos mesmos. E garante: "Hoje vou cozer mais de 150".

"As gerações mais novas não estão para se matar a fazer isto", resume a boleira Maria Isabel, quando se fala em perpetuar a tradição gastronómica dos bolos de Ançã. O marido, Evaristo Garrido, concorda "Esta é como todas as artes: à medida que os velhos morrem, ela perde-se. Os mais novos não querem saber disto para nada".

Sem comentários: