segunda-feira, abril 30, 2007

A necessidade e a deturpação da luta de classes


Assistimos actualmente a uma perda de direitos, cada vez mais flagrante, dos trabalhadores. Este aumento de precariedade não é algo que se restrinja a Portugal, afecta todo o nosso continente mas com algum relevo mais os países da Zona Euro.

Esta crise laboral deve-se, em grande parte, ao excesso de mão de obra disponível – seja ela nacional ou imigrante, isso é irrelevante neste caso – causada pelo aumento do desemprego e tem consequências graves para os trabalhadores que ainda vão mantendo um emprego uma vez que estes, como toda a gente, tem a sua vida empenhada à Banca e vão cedendo nos seus direitos de modo a manterem o seu emprego.

A luta de classes nunca foi tão urgente como agora e é de estranhar que algumas iniciativas ditas revolucionárias comemorem o dia de amanhã, Dia do Trabalhador, colocando em pé de igualdade os trabalhadores e os patrões. É uma igualdade artificial que nunca existiu e, devido à natureza humana, nunca existirá! Os que exploram nunca permitirão que os explorados subam de nível, isso colocaria em risco os seus lucros.

Também é de estranhar que as duas principais centrais sindicais, a UGT e a CGTP, também tenham eliminado as palavras “luta de classes” do seu vocabulário, cada vez mais obediente e muito politicamente correcto.

Actualmente todo o trabalho é precário, ninguém é indispensável e torna-se cada vez mais difícil entrar para os quadros das empresas – recordo que actualmente abundam os contactos a prazo de 3 meses a 3 anos – bem como do Estado que, gerido como se de uma empresa se tratasse, tem também o lucro e o saldo das suas dívidas à banca (o famoso défice que não nos deixa de tanga, mas mesmo com o dito cujo de fora) como principal objectivo das suas políticas económicas em vez do bem estar dos seus cidadãos, que tudo pagam com os seus impostos.

O título deste ensaio menciona também a deturpação da luta de classes, pois actualmente o Sistema que nos rege, através das mobilizações – transferência de fábricas e de outros recursos (como centrais de atendimento) para países estrangeiros com mão de obra barata – deturpou a luta de classes, assistimos a uma luta de classe entre trabalhadores do mesmo ramo que residem em países diferentes auferindo vencimentos diferentes, principal causa da emigração/imigração.

Claro que em nome da solidariedade socialista, infelizmente praticamente inexistente, os trabalhadores espanhóis em teoria recusariam que uma fábrica mudasse as suas instalações para esse país se isso afecta negativamente os trabalhadores do país que a perde – e isso é possível uma vez que os sindicatos fazem parte de associações internacionais (que para nada servem). Mas o capitalismo selvagem ataca em todas as frentes, em todas as raças, em todas as nações, e a solidariedade é secundária quando surge a oportunidade de novos postos de trabalho.

Esta deturpação da luta de classes é também flagrante na importação de mão de obra barata em que trabalhadores imigrantes, com as mesmas qualificações, aceitam trabalhar por um ordenado inferior ao dos trabalhadores nacionais. Os sectores da prestação de serviços e da construção civil são os mais afectados, os imigrantes romenos trabalham em Portugal mais barato que os portugueses, os portugueses emigram para Espanha onde trabalham mais barato que os espanhóis, os espanhóis seguem para França e um longo etc., cria-se assim uma situação de luta de classes artificial que afecta apenas os trabalhadores deixando no seu conforto burguês os patrões.

Acreditamos que esta situação se deve em muito, se não só, ao facto das elites que governam este país viverem numa realidade que não é a da população que regem. Notem que os nossos políticos auferem bons ordenados, vivem em condomínios privados, colocam os seus filhos em estabelecimentos privados, frequentam hospitais privados, viajam em primeira classe… enfim, os nossos homens públicos muito pouco têm de público. De realçar também que muitos dos nossos políticos, quiçá todos, antes de o serem e depois de o serem trabalhavam em empresas privadas, normalmente como gestores.

Ou seja, a nossa classe política é toda de alta e sem os removermos do poder nada irá mudar, as classes baixas (ou ainda existe classe média?) têm de levantar as calcinhas, arregaçar as mangas e deitar abaixo os grandes senhores. Não adianta manter a votação nos partidos com assento na Assembleia, pois todos eles são financiados por empresas privadas nas suas campanhas eleitorais, mudam os nomes e os rostos dos deputados e dos ministros mas são todos moscas da mesma criação.

A luta de classes é, actualmente, mais necessária do que alguma vez foi. Bem gostaríamos nós de obrigar os nossos ministros e deputados a viverem um mísero mês com o ordenado mínimo nacional, ou quem sabe um ano. Certamente que assim ficariam cientes da realidade do povo português, que precisa de pão e tecto e dispensa bem TGVs e aeroportos internacionais uma vez que, com os seus rendimentos, apenas os senhores da elite os poderão utilizar mas que são pagos por todos nós, trabalhadores submetidos ao esclavagismo pela Banca e pelo grande capital, através dos nossos impostos.

Trabalhadores, a Pátria espera por nós! Que os nossos filhos beneficiem do Socialismo que nos é negado e dum futuro que, cada vez mais, nos querem roubar! Não por nós, mas pelas crianças, pelos portugueses de amanhã!


FONTE

2 comentários:

PintoRibeiro disse...

Um post contra a corrente. Muito bom.
Boa noite.

Flávio Gonçalves disse...

"Nós abominamos a violência, odiamos a violência, adiamos quem a pratica. Aliás, o nosso objectivo era ir ter com esses gajos que gostam de violência e rebentar-lhes a tromba toda à força de barras de ferro, partir-lhes os dentes, partir-lhes o nariz p'ós gajos sufocarem no próprio sangue.
Porque nós odiamos violência."

http://www.youtube.com/watch?v=ExH-FJeqpgE