sexta-feira, dezembro 05, 2008
Gazeteiros do sistema
Um projecto do CDS-PP que recomendava a suspensão e simplificação da avaliação dos professores poderia ter sido aprovado no Parlamento, não fossem as ausências de deputados nas bancadas da oposição.
Era de esperar que desta casa só saíssem bons exemplos, mas como bons políticos do sistema eles fazem gosto em não ser exemplo para ninguém.
Tentando arranjar uma frase para terminar este texto, passo pelo blogue do HNO e consigo a cereja em cima do bolo e mais uma despesa pois certamente vou comprar o livro.
Quando o Estado se transforma em grão-mestre dos ritos expiatórios - os reis gozavam do privilégio de perdoar, enquanto os presidentes modernos têm o de apresentar desculpas - e quando o monstro insensível se torna compassivo, ele usurpa às autoridades morais a sua função espiritual e às autoridades universitárias as suas competências científicas. Ele entende que se trata de uma reconciliação; de exumar um passado duvidoso para lhe barrar o caminho. Muitas vezes consegue atingir esse objectivo até demasiado bem, ao ponto de lhe adulterar o sentido. O arrependimento é (em todos os sentidos) contemporâneo à última idade do estado, a do seu desmoronamento: finge então meter-se em tudo, escreve a história em vez dos historiadores e pretende garantias de uma verdade intangível. Qual justiceiro retrospectivo, ocupa-se a saldar as contas dos tempos antigos para inscrevê-las no caderno de encargos da consciência nacional. Este arrependimento difuso surge em lugar e em nome de uma acção real e conflui numa confusão de ordens; num pânico legislativo. A azáfama memorial não é um síndroma totalitário, é antes o de uma agitação confusa, de uma recusa em governar.(...)
Quanto mais ele se fustiga, mais ele excita a avidez de grupos de pressão, desmesuradamente contentes por fazerem valer censuras e que tentam alcançar feudos e baronias, apoiando-se no Parlamento, se for necessário. Escancara-se o cofre das lamentações. (...) Uma loucura de mortificação apodera-se então das altas esferas: já não prescrevem senão um calendário, o do luto. Todos os meses e todas as semanas, eles deveriam sangrar ao recordar as nossas perversidades. (...) Não existe categoria social, profissional ou regional, que não consiga alegar a eleição de um dano ou de uma mortandade longínqua, que se possa inscrever imediatamente no registo das comemorações. Ao empenhar-se neste ritual terapêutico, julga-se que estaríamos a prevenir rancores e vinganças, mas é o inverso: desperta-se o furor daqueles que não foram citados, suscita-se uma epidemia de reclamações: e eu? e eu? Mas o Estado não é uma Igreja, ele tem de responder pelo presente e pelo futuro, não tem de passar o tempo a confessar-se arrependido!
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