sexta-feira, dezembro 21, 2007

O negócio da saúde


Uma nova unidade de saúde vai nascer em Coimbra.
Este empreendimento possui uma área de 4.800 m2, distribuída por três pisos, e será uma adaptação de um espaço já existente no estádio de Cidade de Coimbra.
O espaço será pertença do Grupo Português da Saúde, um operador fundado em 2004 que actua no mercado nacional de saúde, nas áreas de cuidados ambulatórios e hospitalares, através de unidades distribuídas por vários pontos do país.
Com muitas unidades de saúde a fechar por todo o Distrito, as empresas privadas têm agora caminho aberto para começarem a operar.
Não sou contra a livre iniciativa neste sector, mas quando o estado se demite das suas funções para entregar nas mãos de privados uma área sensível como esta tenho de o denunciar e combater.
Este governo de socialista só tem o nome, a oposição não tem força ou não o quer combater, vemos mesmo que nalgumas áreas ou assuntos caminham alegremente de mãos dadas.
A saúde não é um bem de consumo como outro qualquer, pois está associado á vida humana e a qualidade dessa vida depende do acesso e da qualidade dos serviços de saúde. Para além disso, a sua necessidade é tanto maior quanto maiores foram as privações sofridas e quanto menor for o acesso a cuidados de saúde ao longo da vida. Pode-se mesmo dizer que em média a necessidade deste bem essencial que são os cuidados de saúde é inversamente proporcional à capacidade financeira para o pagar. Quanto mais se precisa devido à vida de privações que se teve de suportar menos dinheiro se tem para pagar os cuidados de saúde que naturalmente se necessita.
A maximização do lucro na prestação privada de cuidados de saúde, salvo situações excepcionais de rigoroso controlo público, absolutamente inexistentes em Portugal, tem conduzido a restrições na qualidade dos cuidados prestados, limitado o acesso e acabado por conduzir a um imparável agravamento dos custos.
Não é expressivo que o sistema privado de saúde mais desenvolvido do Mundo, o dos Estados Unidos, tenha conduzido este país a ser o que de longe mais gasta com a saúde (13,9% do Produto Interno Bruto), ao mesmo tempo que apresenta um número recorde de cidadãos, superior a 80 milhões, sem qualquer protecção de saúde nos últimos dois anos?
Se houvesse transparência na governação deveria ter sido publicamente apresentado um livro branco fidedigno sobre a qualidade da prestação privada de cuidados de saúde no Hospital Amadora-Sintra (que abrange em situação de monopólio cerca de 6% dos portugueses) e sobre os seus custos.
O facto do respectivo empresário ter proclamado que "em 2010 a iniciativa privada deveria representar 50% do mercado" da saúde, não evidencia que ninguém pode permanecer indiferente?

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