segunda-feira, dezembro 10, 2007

«Por favor parem de ajudar África!»




No passado dia 06/07/2005, na revista Alemã “Der Spiegel”, sob o título “Pelo amor de Deus, parem de ajudar África!”, um africano, especialista em economia e profundo conhecedor das realidades africanas, James Shikwati, do Quénia, afirma numa entrevista ao jornalista de Hamburgo Thilo Thielke que a ajuda internacional só alimenta a corrupção e impede que a economia se desenvolva, que destrói e acaba com a produção agrícola e industrial e causa desemprego, consequentemente criando mais miséria e mais dependência.
Afirma este africano lúcido que a ajuda ao continente africano é mais prejudicial que benéfica, realçou os efeitos desastrosos da política de desenvolvimento ocidental na África, falou sobre governantes corruptos e a tendência de exagerar por interesse o já de si grave problema da Sida.

Burocracias gigantescas e inoperacionais são financiadas com o dinheiro da ajuda dos países ocidentais. A corrupção e a complacência são promovidas, os africanos aprenderam a ser mendigos, e tornam-se parasitas e dependentes.

Além disso, a ajuda ao desenvolvimento enfraquece os mercados locais em toda a parte e mina o espírito empreendedor que é fundamental em qualquer sociedade dando origem a que os países que receberam mais ajuda ao desenvolvimento também são os que estão actualmente em pior situação.

Por mais absurdo que à primeira vista possa parecer, a ajuda ao desenvolvimento é uma das principais causas dos problemas de África. Se o Ocidente cancelasse esses pagamentos, o povo, os africanos comuns, nem sequer perceberiam. Somente os funcionários públicos e dos programas de ajuda o sentiriam e seriam atingidos. Ao serem obrigados a encontrar sozinhos as soluções para os seus problemas, os africanos têm a possibilidade de recuperar a dignidade perdida e, eventualmente, a de abrir caminhos originais e novas soluções à sua escala e ao seu ritmo para evoluir. Afirma Shikwati: «Quando há uma seca numa região do Quénia, os políticos corruptos pedem imediatamente mais ajudas. O pedido chega ao Programa Mundial de Alimentação da ONU, que é uma agência maciça de “apparatchiks” que estão na situação absurda de, por um lado, dedicarem-se à luta contra a fome, e por outro enfrentar o desemprego onde a fome é eliminada.

É muito natural que eles aceitem de bom grado o pedido de mais uma ajuda, e não é raro que peçam um pouco mais de dinheiro ou alimento do que o governo africano solicitou originalmente. Eles encaminham esse pedido ao seu quartel-general, e em pouco tempo, se a ajuda for alimentar, milhares de toneladas de milho ou outro cereal são embarcadas para a África. Esse milho acaba em determinada altura num porto como por exemplo o de Mombasa. Uma parte do alimento em geral vai directamente para as mãos de políticos corruptos e sem escrúpulos, que em primeira-mão o distribuem na sua própria tribo para manter a lealdade tribal em alta e ajudar sua próxima campanha eleitoral. A outra parte da carga termina no mercado negro, onde o milho é vendido a preços extremamente baixos. Os agricultores locais podem guardar os arados; ninguém consegue concorrer com os preços de mercado ditados por esta concorrência desleal originada pelo programa de alimentação da ONU. E como os agricultores cedem diante dessa pressão e deixam de semear, o Quénia não terá reservas a que recorrer se houver uma seca e fome no próximo ano. É um ciclo simples mas fatal.

Se não existissem as ajudas, os quenianos, seriam obrigados a iniciar relações comerciais com outros Países africanos seus vizinhos, como o Uganda, Tanzânia, Moçambique, etc., para lhes comprar alimentos. Esse tipo de comércio é vital para África pois obrigaria a melhorar as infra-estruturas, enquanto tornaria mais permeáveis as fronteiras nacionais, que, aliás, até foram artificialmente traçadas pelos europeus. Também os obrigaria a legislar a favor da economia de mercado e levaria a acordos internacionais que favorecessem o comércio e a circulação de bens.

A fome não deveria ser um problema na maioria dos países ao sul do Sahara pois nestes países existem vastos recursos naturais como petróleo, ouro, diamantes. Nos países industrializados existe a sensação de que África naufragaria sem a ajuda ao desenvolvimento. Será assim? A África já existia antes das ajudas aparecerem.

Até a sida é um grande negócio, talvez o maior negócio da África. Não há nada capaz de gerar tanto dinheiro de ajudas quanto as fotografias das criancinhas e os números chocantes sobre a sida. Em África esta é em primeiro lugar uma doença política. Milhões de dólares e euros destinados ao combate à sida estão guardados em contas bancárias, nos próprios países e noutras partes do mundo, e não foram gastos naquilo a que se destinavam. Os governantes e políticos ficaram cheios de dinheiro, e continuam a desviar o máximo possível em proveito próprio.

O falecido tirano da República Centro Africana, Jean Bedel Bokassa, resumiu cinicamente tudo isso dizendo: “O governo francês paga por tudo no nosso país. Nós pedimos dinheiro aos franceses, eles mandam, nós recebemos e então gastamos”.

Todos os anos chegam ao Quénia e a outros países rios de dinheiro, alimentos e roupa usada doada por cidadãos Ocidentais que querem ajudar os africanos. Shikwati pergunta: Porquê enviar para África essas montanhas de roupas e agasalhos? Ninguém passa frio no clima africano!

A quase totalidade dela não é entregue ao povo. Em vez disso aparece a preços irrisórios à venda nos chamados mercados Mitumba e por isso os costureiros tradicionais perdem o seu único ganha-pão. Eles estão na mesma situação que os agricultores. Ninguém no mundo de baixos salários de África pode ser eficiente o bastante para acompanhar o ritmo e os preços a que são vendidos os produtos doados. Em 1997 havia 137 mil trabalhadores empregados na indústria têxtil da Nigéria. Em 2003 o número tinha caído para 57 mil. Os resultados são iguais em todas as outras regiões onde o excesso de ajuda e os frágeis mercados africanos entram em colisão.

Quando inquirido sobre se uma retirada neste momento dos programas de ajuda internacionais não iria aumentar a miséria e o desemprego, o economista rematou: África precisa dar os primeiros passos na modernidade por conta própria. Deve haver uma mudança de mentalidade. Têm de parar de se auto-considerar mendigos. Hoje em dia os africanos só se vêem como vítimas, como coitadinhos. Por outro lado, ninguém pode realmente imaginar um africano como um honesto e próspero homem de negócios. Para mudar a situação actual, seria útil que as organizações de ajuda saíssem.

É verdade que, se, ou quando o fizerem, muitos empregos serão imediatamente perdidos. Mas que empregos? Empregos que foram criados artificialmente, para começar, e que distorcem a realidade. Os empregos nas organizações estrangeiras de ajuda são muito bem pagos e como tal muito apreciados, e estas organizações são muito selectivas na escolha dos candidatos. Quando uma organização de ajuda precisa de um motorista, dezenas de pessoas candidatam-se. Como é inaceitável que o motorista só fale a sua língua tribal, o candidato também deve falar inglês,
português, alemão ou francês fluentemente, ser minimamente instruído, bem-educado sobre o ponto de vista ocidental e ter boas maneiras. Então acaba-se com um jovem licenciado africano como motorista a conduzir o carro de um funcionário da ajuda, distribuindo comida europeia e levando, como consequência, os agricultores locais a deixar seu trabalho. É simplesmente surreal! Se se quer realmente combater a pobreza, deveriam parar totalmente a ajuda ao desenvolvimento e dar a África a oportunidade de garantir por si mesma a sua subsistência e sobrevivência.

Actualmente a África é como uma criança que chora imediatamente quando há algo errado a pedir ajuda à Mãe ou ao Pai.

A África tem que erguer-se sobre os próprios pés.»

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