quinta-feira, outubro 22, 2009
Negociatas pouco académicas
O bar que abriu, em Março, no jardim da Associação Académica de Coimbra, está a arrasar os nervos de estudantes e sócios de organismos autónomos. Dizem que o ruído "extremo", até às 6 da manhã, os impede de trabalhar.
"Há dias em que não se pode falar cá dentro. Queremos discutir ideias e é impossível, porque nem sequer nos conseguimos ouvir uns aos outros". Estamos na sala da Direcção do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC). É a tesoureira quem fala. Maria Inês Pinela diz que o bar é "insuportável", bem como "tudo o que acarreta": os "vidros a tremer", a urina que fica junto à sala de ensaios, o desaparecimento de material cénico.
No espaço ocupado pelo Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), que tem as janelas ao nível do jardim, ouvem-se queixas idênticas. Diz-se, do bar, que é uma "discoteca ao ar livre", mas "não tem os mesmos deveres que uma discoteca normal". A música alta - que atinge o pico por volta das 3 da manhã, prolongando-se até às 6 horas - é a maior fonte de perturbação. Mas não a única.
Ter gente a vomitar à porta ou a urinar contra as janelas tornou-se habitual, conta Henrique Patrício, do GEFAC. "Também fazemos as nossas festas [aponta um amontoado de grades de cerveja]. Nunca tivemos queixas de outras secções. E qualquer secção se queixa do bar", frisa, lembrando que, durante a noite, há sempre gente a trabalhar nos organismos.
O GEFAC, por exemplo, faz "noitadas a preparar espectáculos", diz Henrique, que contesta, especialmente, o estender da festa até às 6 da manhã. "Normalmente, as pessoas vêm de outros sítios para acabar a noite aqui", reforça um elemento da secção, que prefere não ser identificado.
Tudo isto é confirmado por uma aluna da Faculdade de Letras, frequentadora da sala de estudo da AAC, que também pede o anonimato: "À noite, não se pode. O barulho é extremo, sobretudo se houver festas ou espectáculos. Durante a tarde, há som ambiente. Eu uso auscultadores e mesmo assim..."
"Já recebemos queixas e elogios [relativamente ao bar do jardim]. Estamos a tentar encontrar o ponto óptimo", sustenta, por seu turno, o presidente da Direcção-Geral (DG) da AAC, Jorge Serrote. "Apostámos no reforço da segurança do edifício, para que as pessoas não subam aos pisos e se evitem certas situações à porta das secções", explica o estudante, garantindo estar atento a estas "preocupações".
Outra questão levantada por estudantes e membros de secções é o estado do jardim, desprovido de relva. "Aquilo não é jardim nenhum, é a calçada para o bar", lamenta Maria Inês Pinela. "A vedação que colocámos foi destruída. Vamos deixar passar estes dias [da Festa das Latas], em que há mais gente, para plantar a relva", responde Jorge Serrote.
A Câmara de Coimbra, por seu lado, fez saber que o bar do jardim da AAC "tem o projecto aprovado, mas ainda não possui horário de funcionamento aprovado". Fonte da autarquia informou, também, que "estão já instaurados vários processos de contra-ordenação, contra a AAC e os exploradores, relativos a queixas de ruído", sem precisar de que queixas se trata.
A AAC é uma associação de estudantes, que se está transformando num complexo de bares.
Os bares em Coimbra não podem funcionar para além das quatro da manhã, mas o bar da AAC funciona.
Este bar merecia uma visita das autoridades, muitas vezes tão solícitas em passar por outros bares de Coimbra e que tarda em fiscalizar estas negociatas pouco académicas.
Por ultimo, visto uma exploração particular gozar de benefícios que só deviam ser utilizados pela instituição AAC, constitui um caso típico de concorrência desleal, relativamente aos outros bares de Coimbra.
FONTE
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