quinta-feira, março 27, 2008

Em campanha eleitoral


O governo vai baixar o IVA para 20%, a notícia agrada-nos a todos, porque vai permitir poupar mais uns cobres. Mas uma análise mais atenta, mostra-nos que o preço dos produtos de primeira necessidade não vai sofrer alteração e que em relação aos preços dos produtos sob os quais esta taxa de IVA incide, provavelmente vamos ter mais episódios tipo ginásio. No entanto esta manobra para “inglês ver” insere-se na nova actividade do primeiro-ministro, inaugurações e mais inaugurações, desapertar um pouco o cinto e fazer algumas concessões. Objectivo ganhar as próximas eleições. Depois em nome do défice ou de outra coisa qualquer, a crise vai voltar acompanhada das medidas do costume. Quem faz um cesto faz um cento e das promessas das últimas eleições devemos todos estar lembrados.
Apesar das propagandas institucionais, as queixas da oposição e a famosa (e desgastada) frase: “Vamos dar o peixe, mas também vamos ensinar a pescar”. Dita pelos mesmos políticos que ocuparam o poder, por várias décadas, e nunca deram uma sardinha sequer para o povo ou, muito menos, o ensinaram algo que prestasse. Pelo contrário, cuidaram de arruinar um sistema de saúde a educação e outras coisas mais. A verdade (essa pequena palavra que causa arrepio a qualquer político) insiste em aparecer, mesmo disfarçadamente, e escorrer por entre os dedos daqueles que são pagos para contê-la a todo o custo.
Os nossos governos são farsantes interessados apenas em seus mundos medíocres e infames. O nosso povo, vaga alienado e desinteressado da desgraça que bate a sua porta. Embevecido com o novo namorado da “actriz tal” ou debatendo durante dias quem será eliminado do taça de Portugal. A selecção joga hoje? É a pergunta mais importante feita pela maioria; enquanto poucos querem saber o que seu representante fez em seu nome. Enquanto a vida dos portugueses piora todos os dias e meia dúzia de famílias enriquece desmesuradamente, os nossos políticos preocupam-se em acender seus charutos e beber seu whisky doze anos.
Qual gado manso, caminhando felizes para o matadouro, seguimos quietos e sorridentes imersos em nossos “universos anões”, preocupados apenas com nossos umbigos. A morte, enquanto isso, muda-se para a casa ao lado e cumpre seu expediente macabro em nosso solo. Com o aval de nosso povo e o beneplácito de nossos governantes.
A chamada naturalização da ideologia, que consiste em fazer tomar às massas como um facto de senso comum, como algo natural à evolução humana, e aqui entra o controlo dos media, aquilo que na realidade é um pressuposto ideológico, o modo de vida do consumidor-eleitor. Através do modelo educacional-cultural difundido são extirpados os últimos vestígios de racionalidade na consciência do explorado. Ele tem, ele deve sentir-se feliz, se tal não acontece há uma vasta farmacopeia de que se pode socorrer a fim de “funcionar” normalmente.
Se alguém resiste, se alguém diz basta, logo os algozes do costume pedem a sua cabeça.
É preciso que o rebanho continue agarrado à televisão, pois é ignorante e provinciano.
O pior deste governo è a sua oposição, que é pior que o governo que diz combater.
Pior que a oposição e o governo é o sistema instituído.
Hoje ser anti sistema é um acto revolucionário.

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