quinta-feira, março 06, 2008

O eterno código do soldado


Publicado por Diego Urioste

O homem desde que apareceu organizou-se sempre em sociedade. A natureza social do homem é igual à dos outros animais e está configurado para cumprir um mínimo de objectivos vitais como a reprodução para perpetuar a espécie.
Toda a sociedade seja de que tipo deve reger-se por uma moral comum que deve ser aceite por todos os membros que a compõem.
A moral funciona portanto como uma forma de união entre os indivíduos de uma comunidade, como um código social que rege os comportamentos e os valores dos seus membros. Todos devem cumprir o código pois é uma obrigação comunitária. Da mesma maneira que não existe nenhum estado duas ou mais leis fundamentais (Constituição) também não possível que hajam distintos códigos morais na mesma sociedade. O valor de um código de conduta é a sua aceitação por uma maioria, é o que o sustente e lhe confere legitimidade. Uma moral, um critério, uma lei, uma sociedade.
Durante a história, desde o aparecimento do homem, criaram-se inúmeros códigos para reger as sociedades. A própria religião era também um guia de conduta para a convivência de algumas sociedades, criando leis de orientação para os indivíduos que vivessem debaixo dos mesmos princípios. Civilizações (com as suas respectivas normas sociais) criaram-se sobre as ruínas de outras mais antigas; sociedades edificadas a partir da destruição dos seus inimigos.
A idade contemporânea (1) caracterizou-se entre outras coisas pela crescente autonomia e orientação egocêntrica e individualista (2) frente à heteronomia moral (3) tradicional. A existência de uma pluralidade de morais e códigos de conduta torna impossível a convivência, uma vez que cada grupo da sociedade se guiara segundo as suas normas o que gerará conflitos sem resolução. A modernidade extrema o discurso autonomista vai ao ponto de criar tantas moralidades sociais como indivíduos possam existir. Como é possível conviver numa comunidade com tantas leis diferentes como os membros que a compõem e muitas delas opostas? Não é fácil, é seguramente inviável, é uma aberração filosófica e social cujas consequências já estamos sofrendo.
Podemos também verificar que civilizações tão distantes no tempo e no espaço, compartilharam códigos morais e de honra comuns. Agora que se relega os códigos de moral exclusivamente às igrejas e honra às instituições militares, é importante estudar aqueles códigos que guiaram homens cidadãos e soldados em distintos momentos e lugares da historia da humanidade.

Dharma do Kshatriya

O Xátria “é o homem de valores políticos, o que salva os outros da dor. era a casta governante e guerreira, que estava encarregada de proteger os seus, a sua comunidade, utilizando os meios justos para a alma”. O acesso a esta casta era bastante complicado e dependia de dois factores bem distintos: descendência e aptidão.
Por outro lado os xátrias pertenciam a uma das castas da civilização védica, que de uma forma pouco definida, eram em parte hereditárias, como os títulos de nobreza conseguidos por algum mérito militar ou académico na Europa. Por outro lado pertencer a uma classe guerreira também dependia do mesmo modo como se conseguia da atitude (guna), conduta (karma) e natureza pessoal (swabhava). Ser e pertencer.
Do mesmo modo que a “Noblesse Oblige” era mais um dever de responsabilidade social que um direito dos nobres e senhores europeus, ser xátria era uma responsabilidade social e militar. O código de conduta, o Dharma era o seu código de honra e quebra-lo significava algo pior que a morte; a desonra.
Julius Evola (4) Escreveu O guerreiro deve ter uma lucidez supra consciente ou pôr acima da paixão e do heroísmo (…), (e conferi-lo aos seus actos), pureza de carácter, de absolutidade, que deve ter toda a acção e que se pode ter quando considerada sob o ponto de vista da guerra santa. “ Considera de igual forma a felicidade e a tristeza, o ganhar e o perder, a vitoria e a derrota, e entra no combate. Cumprindo assim o teu dever não incorrerás em pecado (Bhagavad Gītā, 2.38). Importa-se assim a ideia de pecado que não se refere mais ao estado de vontade incompleta e da acção interiormente incorporada mas sim da elevação, que no que lhe diz respeito a sua vida significa pouco, bem como a dos outros e que nenhuma medida humana tem vigência.

Código das Ordens de Cavalaria
As ordens de cavalaria nasceram com as cruzadas. No próximo oriente surgiram novas instituições em que os soldados cavaleiros se associavam entre eles segundo um estrita e quase monástica forma de vida para proteger os peregrinos e defender as conquistas cristãs na Terra Santa. A sua vida estava imbuída de misticismo, fidelidade e combate.
Sempre segundo Evola (5) “Os que julgam as cruzadas por cima do ombro não suspeitam que aquilo que eles chamam de “fanatismo religioso” é uma prova tangível da presença da eficácia de uma sensibilidade e de um tipo de actuação cuja ausência caracteriza a barbárie autêntica. porque no fim de contas o homem das cruzadas sabia elevar-se, combater e morrer por um motivo que, na sua essência era suprapolitico e suprahumano”.

O código de Cavalaria: (6)
Valor: Procurar a excelência em tudo o que fazia era o que se esperava de um cavaleiro, sendo marciais ou de outro tipo, tentando sempre encontrar a força necessária para ser usada ao serviço da justiça, em vez de para engrandecimento pessoal.

Justiça: Procurar sempre o caminho que leva ao “justo” sem pensar nos prejuízos ou no interesse pessoal. Ter em conta que a espada da justiça pode ser terrível pelo que deve ser temperada pelo humanismo e a clemência. Se o que te parece justo coincide com a opinião dos outros e deves procura-lo sem ceder à tentação da tua própria conveniência, então merecerás uma boa reputação.

Lealdade: Ser conhecido pelo teu inquebrantável compromisso para com as pessoas e para com o ideais que escolhes-te para viver. Existem muitas coisas que requerem moderação, a lealdade não é uma delas.

Defesa: O verdadeiro cavaleiro estava obrigado por juramento a defender o seu senhor e todos aqueles que dependiam dele. Deves estar sempre pronto a defender a tua nação, a tua família e todos aqueles que consideras dignos da tua lealdade.

Coragem: Ser cavaleiro significa, frequentemente eleger o caminho mais difícil, o mais custoso a nível pessoal. Estar preparado para fazer sacrifícios pessoais ao serviço dos princípios e das pessoas que gostas. Mas ao mesmo tempo um cavaleiro deve procurar a sabedoria que lhe faça ver que a estupidez e a coragem são primos irmãos. Coragem também significa optar em tudo, pela verdade em vez da mentira. Procurar a verdade sempre que possível mas tempera com a clemência, porque a verdade pura pode levar à dor.

Fé: um cavaleiro deve ter as suas crenças; a livra-o do afastamento e dá-lhe esperança na luta contra a desesperança inerente às debilidades humanas.

Humildade: Valorizar primeiro as contribuições dos outros, não valorizar as suas conquistas, deixando que os outros o façam por ti. Contar os feitos dos outros antes dos nossos, dando-lhes o devido valor. Desta forma glorificará o ofício de cavaleiro, ajudando não só as pessoas de que fala, mas também todos aqueles que se chamam a si próprios cavaleiros.

Generosidade: Ser generoso na medida em que os recursos próprios o permitam, a generosidade usada desta maneira é contraria á gula. A generosidade torna o caminho da clemência mais fácil, ajuda a discernir quando é necessário tomar uma decisão difícil.

Nobreza: Procurar a grandeza de carácter mantendo-se fiel às virtude e tarefas de um cavaleiro, tendo em conta que, embora os ideais possam não ser alcançados o simples facto de tentar concretiza-los enobrece o espírito e faz com que o carácter cresça desde as cinzas até à gloria. A nobreza tem tendência em influenciar os outros, oferecendo um bom exemplo do que pode fazer-se ao serviço do justo.

Franqueza: Tentar fazer tudo aquilo que temos falado da forma mais sincera possível, não em benefício pessoal, mas sim pelo que é correcto. Não deves restringir a tua exploração a um mundo pequeno, procura infundir estas qualidades a todos os aspectos da tua vida. Se o conseguires ainda que numa pequena medida, será recordado pelo teu humanismo e pelas tuas virtudes.

Bushido

O Bushido é “o caminho do guerreiro” o código de honra dos samurais, que os guia nos seus actos. Da mesma maneira que nos outros códigos, cujos paralelismos são evidentes, o homem guerreiro faz da lealdade e da honra a sal principal causa, sendo a desonra a pior das mortes em vida. da mesma maneira que no Dharma do guerreiro o Bushido através do shintoismo, procurava eliminar o sentido do pecado através do amor ao todo natural, como forma de explicar que não existe nada de mal no que é inato(7). O valor da palavra era tão elevado como o dos actos, “falar e fazer são a mesma coisa” repetiam os samurais como se de um mantra se tratasse.
Só mediante o seppuku (harakiri, suicídio ritual) o samurai poderá recuperar a sua honra perdida, o que lhe custará a vida. Na época contemporânea podemos ainda encontrar exemplos de heroísmo samurai, como o de Yuku Mishima (8) que, ao não conseguir inspirara e convencer os soldados japoneses a sublevarem-se contra o governo e instaurar um sistema tradicional, realizou um seppuku deixando um poema de morte “jisei” tradicional.

As sete regras do Bushido são estas:

Gi- Rectidão (decisões correctas) Se honrado nas tuas relações com o mundo. Acredita na justiça, mas não na vem dos outros, mas sim na que vem de ti. Para um autentido samurai não existem tons de cinzento no que respeita à honradez e justiça. Só existe o correcto e o incorrecto.

Yuu- Coragem: Sobrepor-se as gentes que temem actuar. Ocultar-se como uma tartaruga na sua carapaça não é viver. Um samurai deve ter valor heróico. É absolutamente arriscado. é perigoso. É viver a vida de uma forma plena, completa, maravilhosa. A coragem heróica não é cega. É inteligente e forte. Substitui o medo pelo respeito e pela precaução.

Jin- Benevolência: Mediante o treino intenso o samurai em rápido e forte. Não é como os outros homens. Desenvolve um poder que deve ser usado ao serviço do bem. Tem compaixão. Ajuda os seus companheiros em qualquer momento. Se o momento não surge ele sai em sua procura.

Rei- Respeito: Os samurais não têm motivos para ser cruéis. Não necessitam de demonstrar a sua força. Um samurai é cortês mesmo com os seus inimigos. Sem o cultivo de este respeito não seremos melhores que os animais. Um samurai ganha o respeito não só pela sua firmeza na batalha, como também pela maneira como trata os outros. A autentica força interior do samurai, torna-se evidente nos momentos de apuro.

Makoto- Honestidade, Sinceridade absoluta: Quando um samurai diz que vai fazer algo é como se já estivesse feito. Nda neste mundo o impedira da realização do que se propôs fazer. Não tem que “dar a sua palavra” não tem que “prometer”, o simples facto de ter falado, põe em movimento o acto de cumprir. Falar e fazer são a mesma coisa.

Meyo- Honra: o verdadeiro samurai só tem um juiz da sua honra, ele mesmo. As decisões que tomas e como as levas a cabo são um reflexo de ti mesmo. Não podes esconder-te em ti mesmo.

Chuu- Lealdade: Dizer alguma “coisa” significa que essa “coisa” te pertence. És o responsável por ela e por todas as consequências que se sigam. Um samurai é intensamente leal a todos aqueles que estão sob o seu cuidado. Permanece firmemente fiel àqueles que é responsável. As palavras de um homem são como as suas pegadas; podes sempre saber para onde ele vai.

Credo Legionário

O credo legionário é o código de honra e conduta dos legionários criado pelo fundador da Legião Millán Astray, inspirado no código Bushido que ele traduziu para castelhano, para impregnar o seu corpo militar do mais puro espírito militar espanhol. da mesma forma que outras ordens militares e guerreiras, a Legião transcende mais que a materialidade do exército, para compor uma força de choque mística e imparável. O espírito condutor dos grandes guerreiros da historia da humanidade encontra-se de novo neste corpo de combate.
Millán Astray – Cristianiza e hispaniza o samurai, recuperando com ele o motivo que punha as ordens de cavalaria ao serviço da Pátria. O principio da emenda encontra aqui a mais alta consideração, chamando os homens que levaram uma vida anterior, a redimir-se, através do Serviço Armado. "Valor, Companheirismo, Amizade, União, sofrimento, Disciplina, Morte e Amor a Bandeira"

Credo legionário (funcional)

O espírito do legionário: É único e sem igual, é de cega e feroz agressividade sempre a tentar diminuir a distância entre o inimigo e a baioneta.
O espírito de companheirismo: Com o sagrado juramento de nunca abandonar um homem no campo de batalha, mesmo que pereçam todos.
O espírito da amizade: Do juramento entre todos os homems
O espírito de união e socorro: À voz de “A mim a Legião” estejam onde estejam com ou sem razão acudirão todos em defesa do legionário que pede auxilio.
O espírito de marcha: Jamais um legionário dirá que esta cansado até cair rebentado. Tornara o corpo mais veloz e resistente.
O espírito de sofrimento e rusticidade: Não parará com a fadiga, nem com a dor, nem com a fome, nem com a sede ou o sono. Fará todos os trabalhos: cavará, arrastará peças, carros, estará de serviço, fará faxinas, trabalhará no que lhe mandem.
O espírito de acudir ao fogo: A legião desde o homem só até ao corpo inteiro tentará, acudir sempre onde haja fogo, de dia, de noite, sempre, sempre, mesmo que não tenha ordens para o fazer.
O espírito de disciplina: Cumprirá o seu dever e obedecerá até morrer.
O espírito de combate: A Legião quererá sempre, sempre combater, sem turnos, sem contar os dias, os meses, os anos.
O espírito da morte: Morrer em combate é a maior das honras. Não se morre mais que uma vez. A morte chega sem dor e morrer não é tão horrível como parece. Mais horrível é viver como um cobarde.
A bandeira da Legião: Será a mais gloriosa, porque a tingirá o sangue dos seus legionários.
Todos os homens legionários: são bravos. Cada nação tem fama de bravura. aqui é preciso demonstrar que povo é o mais valente.
Homens e guerreiros, de diferentes terras, de diferentes épocas, de diferentes civilizações, de diversas procedências, compartilharam valores que são eternos. Códigos de honra, que como forças misteriosas da humanidade, inspiram os episódios mais elevados de vitórias, derrotas, tragédia e felicidade, arte, que o homem pudesse chegar.

É o soldado
“ Foi o soldado não o jornalista
quem nos deu a liberdade de imprensa
Foi o soldado não o poeta,
quem nos deu a liberdade de expressão
Foi o soldado não o agitar de rua
quem nos deu a liberdade de manifestação
Foi o soldado, e não o advogado
quem nos deu o direito e a justiça
Foi o soldado, não o politico
quem nos deu o direito de voto
É o soldado, que saúda a bandeira
que serve sob a bandeira
cujo caixão está envolto pela bandeira
que permite ao manifestante que queime a bandeira
(Charles M. Province)


[1] D. Urioste “La Fe Moderna en la Edad Contemporánea”. En Ágora revolucionaria. Disponível em http://urioste.wordpress.com/2007/09/28/la-fe-moderna-de-la-edad-contemporanea/ [ Consultado el 26.11.07]
[2] L. Kohlberg, Desenvolvimento moral, veja teoria dos estados pré-convencionais da moralidade, níveis 1 e2
[3] Kant, Heteronomia da vontade: quando um sujeito não segue as leis morais, as leis a que está submetido isso não tem origem na sua própria razão mas sim no que lhe é incutido de fora
[4] Julius Évola, Cavalgar no Tigre, (p. 60)
[5] Ibid. (p. 39-40)
[6] Copiado da publicação virtual de de la publicación virtual da Ordem de San Estanislao de Polonia
[7] Xinzhong Yao, O confuncionismo
[8] Yukio Mishima fundou o Tatenokai (Sociedad Escudo), unas milicias inspiradas en el código Bushido en 1968 umas milícias inspiradas no código Bushido em 1968. É autor de numerosos livros, entre os quais se destaca “ O mar da fertilidade” como a obra que retrata o seu pensamento global.

1 comentário:

Anónimo disse...

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