sexta-feira, abril 04, 2008

Quando a liberdade enche as prisões


“Para os jovens de hoje será talvez difícil imaginar o que era viver neste Portugal de há vinte anos, onde era rara a família que não tinha alguém a combater em África, o serviço militar durava quatro anos, a expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pelos aparelhos censório e policial, os partidos e movimentos políticos se encontravam proibidos, as prisões políticas cheias, os líderes oposicionistas exilados, os sindicatos fortemente controlados, a greve interdita, o despedimento facilitado, a vida cultural apertadamente vigiada”
Os jovens de hoje ao lerem um texto como este ficam convencidos que foi escrito por um grande democrata. No entanto os que escrevem textos como este foram os que pós 25 de Abril se apresaram a encher as prisões com muito mais gente do que a que dela tinha saído. As sevicias os interrogatórios as prisões efectuadas pró elementos do partido da amplas liberdades, protegidos por tropa fandanga eram diárias.
Felizmente esse período conturbado da nossa história contemporânea foi ultrapassado, na opinião dos historiadores do sistema graças ao Partido Socialista. Assim se ao PCP é atribuída a luta contra a longa noite fascista, ao PS os escribas do sistema atribuem a conquista da liberdade.
Um dia a historia dos últimos anos da nossa pátria vai ser contada por alguém minimamente independente.
O que acabo de escrever é tão verdade em relação aos tempos do PREC como é agora.
O sistema, envergonhado com a questão dos presos políticos, pretende escondê-los com base no argumento dos crimes de delito comum.
Será que neste momento existem presos políticos em Portugal? A resposta não podia ser mais simples. É verdade, neste momento existem presos políticos em Portugal.
Dentro em breve vai iniciar-se o julgamento de Mário Machado e Vasco Leitão. As correias de transmissão do regime tudo vão fazer para que a opinião pública acredite que se trata de um vulgar caso de criminalidade.
Mas se perdermos algum tempo a analisar todo este processo e sobretudo a forma como foi conduzido, vamos chegar a conclusões muito diferentes.
1- No famigerado dia em que a policia entrou em casa de alguns cidadãos, cujo único crime era serem nacionalistas, os meios de comunicação deste rectângulo, crucificaram-nos de imediato. A presunção de inocência tanta vezes usada para desculpabilizar ao amigos e muita escumalha que aterroriza o cidadão comum, neste particular ficou na gaveta. Eram facínoras de extrema-direita, fogueira com eles e a burguesia dorme mais descansada.
2- Na aplicação da medida cautelar de segurança, estamos novamente perante uma dualidade de critérios. Enquanto pedófilos, assassinos, e outra gentalha do género aguarda muitas vezes o julgamento em quase total liberdade, o sistema achou por bem, aplicar outra medida.
3- Aquando da entrada em vigor do código de ma memoria, houve alguma esperança que pelo menos neste caso servisse para repor alguma justiça. Antes pelo contrário, enquanto víamos o sistema a libertar muito criminoso, por meio de manobras no mínimo estranhas as medidas em nada foram alteradas.
4- Agora chegado o julgamento somos confrontados com a pressa em fazer “justiça”. Mais uma vez somo forçados a comparar. Criminosos em liberdade devido à demora dos julgamentos, é o pão-nosso de cada dia. Mais uma vez e para a mesma situação duas medias completamente diferentes.
O mais provável é que o sistema tente a todo custo condenar o Vasco e o Mário, por crimes de delito comum e nunca porque ousaram enfrentar os novos senhores do templo.
A matilha do costume vai-lhes cair em cima e nem o velho argumento tantas vezes esgrimido das condições sociais pode ser aplicado neste caso. São fascistas está tudo dito.
O partido que supostamente nos trouxe a liberdade é o mesmo partido que nos últimos tempos manda a policia carregar sobre manifestações, saneia sindicalistas e funcionários públicos, vigia sindicatos e faz listas de grevistas e conseguiu passados alguns anos sobre o PREC fazer aparecer novamente presos políticos em Portugal.

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