sábado, novembro 24, 2007

O maior prosador futurista português


Por Rodrigo Emílio

Os homens públicos são aqueles que o público conhece menos…”, afirmou certa vez António Ferro e com carradinhas de razão, diga-se, já que, quando assim falava, falava ele com inteiro conhecimento de causa e também com inteiro conhecimento de efeitos. No seu caso pessoal, resulta entretanto inadmissível que a imagem dele enquanto artista – e grande artista literário foi! – permaneça mergulhada na sombra projectada pelo seu vulto de político e homem público igualmente fora-de-série. O fenómeno, ainda assim, não deixará de ter, também ele, a sua explicação – que é porventura esta: António Ferro foi tão portentoso no domínio da criação estética pura, como no da chamada poesia da acção, onde o seu génio altamente empreendedor se exprimiu em bases culturais de espectacular e desbordante e proficiente pragmatismo. Faces que eram do mesmíssimo rosto, muito natural se torna que a mais visível delas – a mais exterior, digamos mesmo: a mais mundana das duas – ficasse a dar mais nas vistas do que a outra; e que, em detrimento da sua obra de criação escrita, prioridade viesse a ser dada à sua obra de intervenção activa. À primeira vista, a coisa aceita-se, de certo modo, se bem que essas duas facetas maiúsculas de António Ferro fossem entre si complementares.

LER MAIS

Sem comentários: