O novo Hospital Pediátrico (HP), anunciado há mais de uma década, tem tido uma aventurosa história, antes mesmo de abrir as portas. Calculado inicialmente em 10 milhões de contos (cinquenta milhões de euros), está agora em oitenta milhões.
Para o HP, sempre tem havido dificuldades de dinheiro. O Ministério de Correia de Campos, no Governo de Gueterres, atirou o seu financiamento para a Europa, mas, por se ter esquecido do IVA, ultrapassou o tecto fixado. Cortou-se-lhe uma fatia, porque, sem Europa, nada feito.
Depois de as contas voltarem para cá, já com a construção iniciada, brotou água que encravou as obras. Geólogos e professores de Engenharia confirmaram que o problema era vulgar, mas o atraso serviu para emagrecer o orçamento. A água demorou imenso a secar, mas, mesmo seca, a obra parou, porque também secou o dinheiro.
Em finais do ano passado, com o novo HP meio construído, lembraram-se de fazer a avaliação da sua viabilidade económica. Era preciso o desatempado estudo para voltar a atacar o ouro da Europa. Contudo, ainda mal tinha acabado de nascer, já era atirado para o fundo da gaveta, porque o ministro, num repente, passou a arranjar a massa toda, antecipando a inauguração para as eleições.
Há poucos dias, um avião de combate caiu. Felizmente, o piloto conseguiu ejectar-se. Mas o F-16, que custou 3 milhões de contos em 1994 (um terço do novo HP na altura),ficou em fanicos. Teme-se que as obras do novo hospital voltem a parar para compensar a perda. Entre um avião para o Kosovo e um hospital para crianças, que escolher? Afinal, a política é, essencialmente, uma questão de escolha. E se sempre houve dinheiro para um e nunca sobrou para outro, a opção foi clara. Preferiram o avião. Ou, dito de outra forma, deram, uma vez mais, prioridade às armas.
A escolha é mais do que discutível, mas o país tem forças armadas, dirão, e isso sai caro. Mesmo assim, é capaz de não haver necessidade de F-16, mais pensados para iraques do que para batalhas difíceis de imaginar em defesa do país. Bom, infelizmente, caiu e agora temos menos um. Será que vamos sentir a sua falta? Como se reflectirá ela no país? Alguém tem sentido a falta de submarinos?
De qualquer maneira, não há dinheiro para a Saúde. E, como também se diz, é preciso acabar com desperdícios.
Ora, segundo o "Público", dos quarenta F-16 comprados em 1994, dez nunca chegaram a sair da embalagem. Ficaram (trinta milhões de contos) encaixotados desde essa altura. Três hospitais pediátricos. Não é um desperdício?
Jorge Seabra, Médico
1 comentário:
Duvido que alguma vez as clínicas de morte assistida, mas conhecidas como "clínicas de aborto", alguma vez passem por dificuldades com o actual sistema...
São as prioridades de certos governos que fazem da sua bandeira legalizar drogas, ligações gays e essas clínicas de aborto. Isto é tão triste...
Saudações!
JD
http://revisionismoemlinha.blogspot.com/
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